Muito tem se falado sobre a orkutização do Twitter. O termo vem sendo utilizado pelos pioneiros que, após o destaque dado ao microblogging pela mídia, estão receosos de uma invasão popular e de uma massificação da ferramenta, assim como aconteceu com o Orkut.
Acredito que a maioria de vocês não conheceu o Orkut em seus primórdios, quando era necessário um convite para fazer o cadastro e o mesmo era vendido até no Mercado Livre.
Internauta de vanguarda, eu fiquei no pé de um colega médico para obter o tão sonhado convite, mas foi através de um amigo do fórum da Info que, enfim, ele chegou.
Com uma interface tão precária quanto a do Twitter, o Orkut era exclusivamente em inglês, baleiava infernalmente e tudo que era digitado tinha de ser copiado antes, pois em 99% das vezes vinha a mensagem de “Bad, bad server. No donuts for you”.
Somente nerds e geeks frequentavam o Orkut e as comunidades de informática, por exemplo, eram geniais. Entusiasmada com tudo aquilo, criei uma comunidade chamada AVG Antivírus, que mais tarde passou a ser denominada Antivirus e Segurança.
Algum tempo depois, vieram os primeiros scrips – sendo que um deles tinha a função de aumentar o número de membros das comunidades. Nesta época, o que dava status era ter muitos “amigos” e muitos membros nas comunidades. A maioria aceitava os pedidos de amizade de forma indiscriminada. Era um verdadeiro “oba-oba”.
No mundo real, quase ninguém ainda sabia o que era aquele negócio com nome estranho e quando eu tentava explicar - movida pelo desejo de compartilhar minhas experiências – meus amigos faziam cara de espanto, como seu eu estivesse falando em grego.
Os scripts nem eram tão do mal assim e o máximo que enfrentávamos eram os trollers, que faziam perguntas do tipo: "como eu faço para instalar o SP1 no Windows 98?” (Não, não eram salsinhas; isso era proposital, apenas para nos desestabilizar emocionalmente)
Me recordo de uma guerra entre linuxers e usuários do Windows (carinhosamente chamados pelos primeiros de loosers). Quase que o caso foi parar na delegacia! Mas, no final, cada um seguiu seu rumo. Por precaução, instituímos a moderação das comunidades e implantamos as primeiras regras, que a priori, todo mundo respeitava.
Como nem tudo seriam flores dali pra frente, apareceram então os lammers, seres execráveis que com seus scripts maliciosos, roubavam senhas e perfis, dizimando centenas de comunidades interessantes, entre elas a do Mozilla Firefox.
Paralelo às minhas aventuras no maravilhoso mundo da informática, graças ao Orkut, pude reencontrar amigos de infância e adolescência, bem como parentes e colegas de faculdade.
O tempo foi passando e o Orkut foi se popularizando através da propaganda mouse-a-mouse; até que, em um belo dia ensolorado, ele foi parar na capa da Revista Superinteressante - que eu comprei e tenho guardada até hoje. Da revista para a TV foi um pulo.
Com o destaque dado pela mídia, assistimos atônitos o nosso playground sendo invadido por fakes, spammers, parafílicos, ETs e miguxos. Era o fim da festa.
A fina nata evadiu-se em massa, alegando a impossibilidade de viver em um ambiente tão “contaminado”. Eu, particularmente, decidi pela minha retirada um pouco mais tarde, em 2008, quando a comunidade Proteção Virus e Invasão, do meu amigo Logan (uma espécie de Compulsivo do Orkut) foi deletada injustamente, graças à ação de lammers. Na época eu já era blogueira e escrevi um post intitulado Orkut-Comunidade Prot-VI excluída.
Hoje, mantenho um perfil no Orkut com o único objetivo de manter contato com parentes e amigos distantes. Mesmo assim, há quem me encontre por lá pra pedir uma “ajudinha”.
Não sei qual vai ser o futuro do Twitter. Será que iremos migrar feito andorinhas para outro serviço semelhante? Ou passaremos todos a trancar os nossos perfis, com medo dos bandidos? Ou até, quem sabe, conviveremos todos em paz, no melhor estilo Woodstock? O tempo dirá. Enquanto isso, vamos aproveitar o que ele tem de bom, rindo muito com a @jenny_taylor e com o @Cardoso; correndo atrás dos maledettos plagiadores e ficando por dentro das últimas novidades nudísticas com o @compulsivo; sentindo-nos descolados com as twittadas da @MissMoura (ela apareceu no Fantástico!); lavando a alma com o @gregoripavan metendo a boca na Telefônica; aprendendo a falar difícil com o @isaismalta; curtindo o eterno mal-humor do @crazyseawolf e a irreverência do @jnoronha (ambos professores de física); perguntando por onde andam @johnnyrrox e @ariane; reclamando, botando a boca no trombone, se metendo em #mimimis, mas sempre juntos, pois o melhor do Twitter é esta sensação de estarmos todos reunidos em um bailinho de formatura da oitava série.
Agradeço ao @Wavel e ao @Celitu por terem colaborado com este post, enviando seus relatos como antigos usuários do Yakult, refrescando assim a minha memória cansada.
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia, o mar também vire sertãoSOBRADINHO – Sá e Guarabira