Estamos vivendo em uma época difícil e uma das centenas de causas é a deselegância, prima-irmã da falta de educação, nascida e criada na ausência de berço esplêndido.
Vivo em redes sociais desde que entrei no Orkut em 2004 e estou na internet desde 2001, quando comprei meu primeiro computador e corri para chats e ICQs da vida. Ou seja, adoro conversar e, claro, analisar pessoas. Modernizando: sou uma analista de mentes sociais.
Desde o começo percebi que, assim como na vida offline, existem alguns usuários que sentem um prazer mórbido em bagunçar, desorganizar, desestabilizar grupos e discussões. Na falta de coisa melhor pra fazer, como por exemplo namorar, viajar, ouvir música e até mesmo trabalhar, os trolls – como são chamados – se comprazem em polemizar.
Eles estão em toda parte e são inabordáveis. Isso significa que discutir com eles é perda de tempo total. Eles não querem debater idéias e sim irritar. Nada mais.
Com a popularização do Twitter, os trolls ganharam uma evidência que a meu ver é desnecessária. Em toda e qualquer polêmica ( #mimimi), o mesmo grupinho antipático se reúne pra trollar. Não, eu não sigo essa gente, mas fico sabendo através de RTs.
Voltando à questão da falta de elegância, vejamos o que diz o dicionário Michaelis:
deselegância
de.se.le.gân.cia
sf (des+elegância) 1 Falta de elegância. 2 Desairosidade, incorreção.
elegância
e.le.gân.cia
sf (lat elegantia) 1 Qualidade daquele ou daquilo que é elegante. 2 Donaire. 3 Distinção. 4 Distinção na linguagem e no estilo sem afetação. 5 Boa proporção de formas; gentileza, graça.
O troll seria o supra-sumo da deselegância na internet, o chato no sentido mais puro da palavra - importuno, inconveniente. E ele merece todo o nosso desprezo. Sério. No máximo uma “zoação” e olhe lá. Mas só se compensar muito…
Além dos trolls profissionais (uma verdadeira antítese), tenho observado um outro tipo de usuário deselegante que é aquele sujeito que não gosta de algo ou de alguém e faz questão de contar pra todo mundo, seja postando, comentando ou tuitando.
No Twitter, ele critica-reclama-xinga com arroba, pra que seu memorável tweet seja lido pelo alvo de sua ira. Em blogs, escrevem posts achincalhando e/ou criticando uma determinada pessoa ou fatos e, não satisfeitos, correm ao blog do desafeto, especialmente pra deixarem comentários agressivos, zombeteiros e até ameaçadores:
Sejamos elegentes, meu povo! Se você não gosta de um blog, pare de ler. Um twitteiro logorreico encheu sua timeline de tweets inúteis? Aperte o unfollow e vá seguir sua vida. Cansou de um seguidor mala-sem-alça-na-marginal-tietê-com-chuva? Aperte o block. Levou um block? Fique na sua. Ficou nervosinho por não fazer parte da meritocracia informal da Blogosfera? Esforce-se ou vá procurar a sua turma. Tá irritadinho por que não ganhou o cd original do Windows 7 ou por que não fez um publi? Vá chorar na cama que é lugar quente.
Agredir, criticar, ficar de #mimimi é feio, deselegante e um sinal de imaturidade psíquica – deixa claro sua #invejinha, a incapacidade de fazer melhor e a necessidade patológica de chamar atenção. Desafetos nada mais são do que objetos de um amor reprimido :P
Tio Freud deu um nome super bonito pra isso – formação reativa:
É um processo psíquico que se caracteriza pela adoção de uma atitude de sentido oposto a um desejo que tenha sido recalcado, constituindo-se, então, numa reação contra ele. Uma definição: é o processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é mantido inconsciente, por conta de uma forte adesão ao seu contrário.
Tem um ditado que define muito bem tais comportamentos: quem desdenha, quer comprar.